QUARESMA: COMVERSÃO PARA A VIDA
Jesus Cristo, por sua natureza Humana e Divina, une o Antigo ao Novo Testamento, trazendo a Boa Nova da Salvação. Moisés e Elias, como protagonistas dos Profetas, vêm atestar este momento, sublimado pela Transfiguração do Senhor, que é o sinal de novos tempos. É a imagem do verdadeiro Deus conosco: “Este é o meu Filho amado, escutai-O!” 
Na mensagem deste domingo, a Palavra de Deus define o caminho que o discípulo deve seguir. É o caminho da escuta atenta de Deus e dos seus projetos, da obediência aos planos do Pai. O episódio da transfiguração está situado no contexto da criação da nova humanidade decorrente da vida, morte e ressurreição de Jesus. Os três premiados discípulos (Pedro, Tiago e João) fazem a inusitada experiência de viver o encontro com o Senhor transfigurado e manifestando a plenitude de sua glória.Primeira Leitura Gênesis 12,1-4
É a apresentação da figura de Abraão. Trata-se de o homem fiel que escuta a voz de Jahwéh e lê os seus sinais, aceitando os apelos de Deus com obediência e dedicação. Nesta perspectiva, ele é o modelo do homem de fé que percebe os planos de Deus e os segue de confiante. Ele é o patriarca símbolo de dedicação a Deus como exemplo a humanidade. O texto, referindo-se aos patriarcas, faz reflexões teológicas destinadas a servir de modelo de vida ao crente israelita. O autor se refere a um tempo de vida nômade de diversos povos, incluindo os israelitas, fazendo parte os patriarcas bíblicos, a procura de uma terra fértil onde “fixar sua tenda” e construir família numerosa, perpetuando sua memória. O patriarcado em referência inclui, além de Abraão, Isaac e Jacob que viviam seus sonhos e esperanças.
É a sequência da humanidade que, tendo se afastado de Deus, procura novo ponto de partida na certeza de que Deus jamais desistiu de construir com ela uma história de salvação. Abraão ouviu a voz do Alto para construir o Novo Povo de Deus. Ele sacrificou seus sonhos para seguir os desígnios de Deus, pondo-se a caminho com a audácia de um verdadeiro crente que deixa o certo para seguir a fé radical em obediência a Deus. O Senhor o recompensa com descendência numerosa e a terra prometida para a bênção de todas as nações.
Abraão é o exemplo do homem que sabe interpretar os sinais de Deus, servindo de exemplo a nós que: a) preocupados com nossos interesses pessoais, não temos tempo para Deus; b) voltados para nosso interesse pessoal, não arriscamos a novidade de Deus. Deus não desiste do homem e continua a nos desafiar, apesar de nossa resistência.Salmo Responsorial – Esperamos, Senhor, na vossa misericórdia!
Segunda Leitura – 2 Timóteo 1,8b-10
A leitura é um apelo aos seguidores de Jesus, manifestado pelo Pai, como testemunhas coerentes com os planos de Deus para a humanidade, exortando-os à fidelidade na fé assumida. Nada de medo, de comodismo e acomodação pode distrair o discípulo dessa responsabilidade. Timóteo é o irmão colaborador de Paulo na pregação evangélica, sobretudo na organização modelar da igreja de Cristo. Paulo o exorta a ser um exemplo de fortaleza e de fé no cumprimento de sua missão apostólica, lembrando o projeto salvífico de Deus para salvar os homens e chamá-los à santidade, através do libertador, Jesus Cristo.
Na quaresma somos conscientizados de que Deus tem um projeto de vida plena para os homens que esquecem o zelo de Deus por nós. O cristianismo não é teoria das conveniências, mas é vida que deve ser aceita, em sua essência, como caminho de verdade, de amor e de bondade. Não é fácil ser testemunha num mundo que ignora os apelos de Deus, desprezando os valores evangélicos. Tais dificuldades, no entanto, não servem de desculpa e de fuga de nossa responsabilidade de levar a sério a vocação a que Deus nos chama.
Evangelho – Mateus 17,1-9 - Este é o meu Filho muito amado: escutai-o!
É o relata a transfiguração de Jesus. Recorrendo a elementos simbólicos do Antigo Testamento, o autor nos apresenta uma catequese sobre Jesus, o Filho amado de Deus, que veio concretizar o seu projeto libertador em favor dos homens através do dom da vida. Aos discípulos, desanimados e assustados, Jesus diz: o caminho do dom da vida não conduz ao fracasso, mas à vida plena e definitiva. O “Levantai-vos e não temais”, significa segui-lo, semeando vidas nova para Deus.
É uma catequese sobre o discipulado de seguir Jesus até a cruz. O relato antecede ao anúncio de sua paixão e um convite a “renunciar a si mesmo e segui-lo”, deixando os discípulos frustrados, pois esperavam um reinado de poder sobre a terra em que eles fariam parte. O fracasso dos sonhos de glória sugere-lhes se perguntar, “se vale a pena seguir alguém que nada mais tem a oferecer do que a morte na cruz”. A cena, no entanto,com todo seu brilho e componentes, surpreende os discípulos, pela manifestação e glória do Mestre, como Filho amado do Pai, assegurando-lhes garantias Divinas com manifestação do próprio Deus. 
A seguir, elementos significativos nos dizem algo sobre o Messias: os montes e nuvens como cenários das revelações, iniciando pela aliança no Sinai, ali Moisés, no encontro com Deus, resplandece ao receber as tábuas da Lei. Moisés e Elias representam a Lei e os Profetas. A reação e temor dos discípulos diante da grandeza de Deus. As tendas lembram o êxodo no deserto. Jesus é o novo Moisés com nova Lei e nova Aliança, deixando claro Sua filiação Divina e o Messias libertador. 
O não conteis nada a ninguém e que a cruz será o início de sua vitória sobre a morte, na ressurreição, Jesus deu ânimo aos discípulos, fazendo nascer um Novo Povo de Deus, com sua Igreja que vai percorrer os caminhos da história. Pedro dá o “pontapé” inicial ao sugerir as três tendas para consolidar o momento glorioso. 
É a vez das equipes de pastorais mostrar porque vieram, manifestando sua pertença a este Novo Povo como sinal e estímulo à comunidade e ao serviço dos irmãos, porque o homem de hoje tem dificuldade em entender esta lógica. A sua lógica visa outras glórias. 
Sejamos realistas: a trajetória é difícil e espinhosa, porque nossa lógica é o bem-estar, o prazer e a vida fácil, ou porque entendemos que, seguir na lógica de Deus, é fracassar. Então sentimos que, sem Deus, nossa felicidade é efêmera e que só Ele nos conduz à vitória sobre a morte e vida definitiva. Os discípulos comprovaram, com a transfiguração, que a Igreja de Cristo não é um ópio que nos apaga, mas um compromisso do amor de Deus à humanidade e nos convida a escutar seu Filho amado e caminhar com Ele, passando pela cruz. E, assim, levados pela ressurreição de Cristo, possamos cumprir as exigências da fé, a exemplo de Abraão.
Para sua meditação e pronunciamento (se desejar):
1. Onde está a realização plena do homem?
2. Preocupo-me em sentir a presença de Deus e suas propostas nos acontecimentos diários?
3. Quem tem razão: Deus, ou os esquemas humanos que dominam o mundo e que nos impõem uma lógica diferente da lógica do Evangelho?
