quinta-feira, 23 de setembro de 2010

VIVENDO O MÊS DA BÍBLIA

INTRODUÇÃO AO MUNDO DA BÍBLIA
(uma colaboração do Padre Ataliba Scheider)
3ª PARTE
9 – O autor da Bíblia
http://t2.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcTz56Ut3kETMmVI1ygnYyOThJ77kbxW3jm6rbCrUqhP1t-bWvM&t=1&usg=__rYgEbECCeou4-tQXLlTExnepuVI=Quem escreveu a Bíblia? Os 73 livros que integram a Bíblia não foram escritos por uma só pessoa. A Bíblia foi escrita por um grande número de autores humanos. Mais de 50 autores distintos, homens e mulheres como nós, trabalharam neles. Mas o seu autor principal é um só.:  Deus. Isto não quer dizer que Ele pegou papel e caneta, e começou a escrever. Deus se serviu de diversos autores humanos para escrever a Bíblia. Eles é que pegaram caneta e papel e escreveram o que estava no seu coração. A Bíblia contém a Palavra de Deus, porque o conjunto de seus escritos foram por Ele inspirados. Em todos os livros sagrados um só e mesmo Deus vai se revelando: Deus inspirou idéias, e as pessoas as escreveram na linguagem de seu tempo. Deus falou a esses escritores por meio dos acontecimentos da vida, dos costumes do povo e, também, pelo coração. Deus, mediante uma assistência especial, fez ver aos diversos autores quais as verdades teológicas e ensinamentos espirituais, que deveriam contemplar em seus livros. E eles colocaram a serviço de Deus sua inteligência, sua sensibilidade humana e o conhecimento que tinham da vida e da história do povo. A maior parte deles não tinha consciência de estar falando ou escrevendo a Palavra de Deus. Só mais tarde o povo descobriu, aí dentro, a expressão da vontade de Deus e a presença da Sua Palavra. Deus estava trabalhando e inspirando, desde o começo, mas eles o descobriram só no final. A gente só conhece totalmente uma flor, depois que o botão se abriu, e que as pétalas são visíveis à luz do sol. O botão da Bíblia abriu totalmente na Ressurreição de Jesus.
http://t3.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcSEbYswv0HApmxe1pzrRiDg9GU2HxpfnU9zhWbVxT8g0i98d74&t=1&usg=__t0Wy7nJ8w0CJCJ2P3krlj0Ae4Qk=Os autores humanos eram pessoas que faziam parte de uma comunidade, de um povo em formação. Preocupados em animar a fé em Deus e a prática da justiça, eles falavam e argumentavam para instruir os irmãos, para criticar abusos, para denunciar desvios, para lembrar a caminhada já feita e apontar rumos. Suas palavras contribuíram para formar e organizar o Povo de Deus.
Tudo isso não se fez num dia. Foi um longo processo que durou séculos. Muita gente colaborou. A Bíblia, portanto, surgiu aos poucos como fruto da inspiração divina e do esforço humano. Ela é o resultado final de uma longa caminhada, fruto da ação de Deus que quer o bem das pessoas, e do esforço dos homens que querem conhecer e praticar a vontade de Deus. Ou seja, a Bíblia é o fruto de um prolongado “mutirão” comunitário do povo que procurava descobrir, praticar, escrever e transmitir aos outros a Palavra de Deus presente na vida.

10 – Podemos comparar a Bíblia a um jornal
http://t3.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcToxxaEAT_kZ6ytPdFu8cft9vZdyJPw_ciky-QF3Nx7oDAlT34&t=1&usg=__B2Giz7G2_NQ9O6oL0Li5mk387Ho=Tome em mãos um jornal qualquer. Observem, há um pouco de tudo: notícias, artigos, reportagens sobre economia, política, religião, esporte, turismo, arte; propaganda, anúncios, classificados, histórias em quadrinhos, avisos fúnebres, etc. Reparem que cada uma das matérias, cada um dos textos desse mesmo jornal, foram escritos por uma ou mais pessoas, e assinados por nomes diferentes. Apesar disso, o jornal forma um conjunto. Esse conjunto é o que, em jornalismo, se chama linha editorial. É a orientação que o jornal segue. Assim, a linha editorial do Jornal do Brasil é diferente da linha editorial da Folha de São Paulo, do Correio do Povo ou do Diário Popular de Pelotas.
Ora, quem garante essa unidade da linha editorial é a pessoa que cuida do jornal, como um todo, e que menos aparece: o editor-chefe ou diretor de redação. Ele não costuma assinar artigos, reportagens ou editoriais. Mas é ele o responsável pela linha editorial do jornal.
Da mesma forma, o editor-chefe da Bíblia é Deus. Os nomes dos jornalistas, articulistas e repórteres são Moisés, Davi, Isaías, Lucas, Paulo, João, Tiago, etc. São estes alguns nomes que aparecem assinando os textos bíblicos. Mas quem inspirou tudo, quem garantiu a unidade e a harmonia de seu conteúdo, foi o próprio Deus. É Ele o principal autor da Bíblia.

11 - A inspiração bíblica
http://t2.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcTuc4g0rjORn3L95Ufq1U4cjzc03iiw1bRmX_TVQFsNzSdvthc&t=1&usg=__d4-80FdEVRuYsmRf85RxdCkQCyg=Não devemos entender a inspiração bíblica” como uma espécie de “psicografia”, como se Deus tivesse tomado a mão do autor sagrado, guiando-a e conduzindo a sua escrita. Nem Deus “assoprou” ou “ditou” o que o autor humano deveria escrever. Se assim fosse, o autor estaria escrevendo uma mensagem apenas de Deus. Sua atuação seria a de um mero instrumento passivo. A “inspiração bíblica” não se deu desta forma.
Na redação do texto bíblico, o escritor humano teve a sua contribuição. Cada pessoa tem o seu estilo próprio, escrevendo de um modo todo particular. O autor bíblico, quando escreve, não está inconsciente nem a sua mão é conduzida por Deus, de maneira a escrever aquilo que não está pensando. Pelo contrário, o autor bíblico está plenamente consciente do que escreve, escrevendo do seu jeito, com o seu estilo, usando os gêneros literários de que mais gosta. A personalidade do autor sagrado é respeitada e a sua contribuição é importantíssima. Ele transmite, de modo humano, à sua maneira, a verdade que Deus quer revelar-nos. Não é possível, pois, entender a “inspiração” do texto bíblico como se fosse ditado por Deus, ou como se o autor sagrado ouvisse uma voz do alto, a voz de Deus, dizendo o que deveria ser escrito. Não que Deus não pudesse falar, e que não tenha falado, algumas vezes, diretamente. Quando encontramos na Bíblia as expressões “o Senhor me falou”, “ouvi o Senhor que me dizia”, nos deparamos com um recurso literário. O mesmo se pode dizer em relação às visões.  É indiscutível que Deus possa aparecer ou provocar visões, mas, na maioria dos casos, elas são também um recurso literário para dar mais força à mensagem. São famosas, por exemplo, as visões do Apocalipse. Seu autor (São João) faz uso desse tipo de relato,  porque as visões fazem parte do gênero literário apocalíptico. O importante é descobrir o que o autor quer transmitir na forma com que escreve.

http://t3.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcRSLfd9UbgDMTEAhr_rtn7UaSjHiqsEbtT5dnNajAcWllp0hMg&t=1&usg=__ppaUmL2mj5JAgYIvhHW8fK6GxC0=Os autores sagrados escreveram a Bíblia com o olhar voltado para Deus, mas com os pés na realidade da vida do Povo de Deus. A personalidade do autor ou dos autores bíblicos, não é destruída. Entendemos, assim, porque o livro do Evangelho segundo S. Mateus é diferente do Evangelho de S. Marcos. Eles foram escritos sobre o mesmo Jesus Cristo e seu mistério, mas por autores diferentes, com objetivos diversos, para comunidades diferentes, que viviam em circunstâncias diferentes.
http://t1.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcSMan_31jfSDG7E2lExiTeq_3z--i0w6u5kt7LNkX7OHfuqm40&t=1&usg=__w-wXMwdG2F93n-Y-Hoqlo32cQwQ=A situação humana transparece na Bíblia. Ela é Palavra de Deus, mas é, também, palavra profundamente humana. Na Bíblia, é Deus que se revela à humanidade, falando-nos de maneira humana, através de pessoas humanas. O Concílio Vaticano II nos diz: “Na Sagrada Escritura, Deus fala através de homens e de maneira humana” (Dei Verbum, 12). É a Palavra de Deus dentro de uma “roupagem humana”. Um agricultor resumiu assim: “Deus fala misturando nas coisas: os olhos da gente percebem só as coisas, mas a fé enxerga Deus que aí nos fala”.
http://t3.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcSgUum_30pMnfAuca0udFJWAdYvLzjuh6jAmtIh749jm-7Gm8s&t=1&usg=__pF7UH0qzeA6408EZTf9Hy0vCkYE=
O autor humano que escreve, sob a inspiração divina, o Livro Sagrado, também se expressa, colocando algo de si mesmo, do seu modo de ser e de ver as coisas. A vivência profunda da experiência de Deus, feita pelo seu Povo, também está ali colocada. Em vista disso, há um forte apelo. É Deus quem apela à humanidade, chamando-a a viver da sua vida. E é o autor humano que apela aos seus leitores, chamando-os à conversão, animando-os e exortando-os a seguir em frente.
Importa ressaltar que a inspiração divina se restringe, unicamente, à matéria de caráter religioso, àquilo que se relaciona com a nossa salvação. Não é intenção da Bíblia, portanto, ensinar história, geografia, biologia, ciência..., mas religião, teologia. O grande perigo é de a gente ler a Bíblia como quem lê um livro de receitas científicas (como foi criado o universo, como surgiu a humanidade sobre a terra, como se movem os astros no céu, como está organizado o universo, etc.?); ou como quem lê um livro de receitas históricas (como viviam os patriarcas Abraão, Isaac e Jacó, como aconteceram exatamente as dez pragas do Egito, como foi mesmo a travessia do Mar Vermelho, como foi a infância de Jesus, como vivia a comunidade cristã primitiva, etc.?); ou como quem lê um livro de receitas morais (como devo agir em qualquer situação possível e imaginável da minha vida...?); ou como quem lê um livro de receitas teológicas (neste caso estaríamos olhando a Bíblia como palavra sobre Deus, e não como Palavra de Deus). 
http://t1.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcSxtRo-p7s6F6yyJLesg7b1uMJYi7NCSX-OhnxrzwhQYN2mdkQ&t=1&usg=__8ugaVDImDtpn5XTcj009IyxzmBw=A finalidade da Bíblia é, unicamente, teológica, espiritual, e não histórica ou científica. Assim, por exemplo, o Gênesis não visa a relatar como se deu a Criação. Não é um relato histórico do passado, mas o seu escritor é um catequista que dá o sentido da Criação. Não visa ao “como”, mas ao “para que“. O autor não quer informar como foi o passado, mas apontar para o futuro.

12 –Lista dos livros inspirados
http://t2.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcTFxms08noIItXC7McHj-ZhFHtMmpjAnawZtzIjtjPNWC18zSg&t=1&usg=__0tpXlfGFX3W_LiKWidfIu5LKtFQ=O Povo de Deus foi fazendo uma seleção daqueles escritos considerados por todos de grande importância para a sua vida, e que mais ajudaram a sua caminhada. Surgiu, assim, uma lista de livros, ou de escritos reconhecidos como sendo a expressão da sua fé, das suas convicções, da sua história, das suas leis, do seu culto, dos seus cantos, da sua missão.
Lidos e relidos nas reuniões e nas celebrações do povo, esses livros foram adquirindo, aos poucos, uma grande autoridade. Tornaram-se o patrimônio sagrado do povo de Israel, porque lhe revelavam a vontade de Deus. Daí vem a expressão Sagrada Escritura.
Nós usamos a palavra lista, eles usavam uma palavra de origem grega, cânon (= norma, lista). Por isso, até hoje, se fala em livros canônicos para indicar a lista, o cânon dos livros sagrados, considerados inspirados por Deus. Esta lista de livros sagrados recebeu, mais tarde, o nome de Bíblia (ela nasceu sem nome).
Qual a diferença entre a Bíblia protestante e a Bíblia católica? A diferença provém da Bíblia hebraica, da Palestina, e a Bíblia grega, do Egito (Alexandria). Os rabinos judeus fixaram no ano 100 d.C., no Sínodo de Jâmnia (a 20 km ao sul de Jafa) a lista (cânon) dos livros do AT que eles consideravam inspirados por Deus. Foram aceitos somente os livros escritos na Palestina, em língua hebraica. Os protestantes, portanto, preferiram adotar a lista mais curta e mais antiga; já os católicos, seguindo o exemplo dos Apóstolos, ficaram com a lista mais comprida da tradução grega dos Setenta, a Septuaginta.
Há sete livros a menos na edição da Bíblia      dos protestantes: Tobias, Judite, Baruc, Eclesiástico, Sabedoria e os dois Livros dos Macabeus. Estes Livros são chamados “deuterocanônicos”, isto é, são da segunda (deutero) lista (cânon).
São considerados livros apócrifos” aqueles que não constam nessas listas, e que, portanto, não são considerados inspirados por Deus.

13 – Quando foi escrita a Bíblia?
http://t1.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcSVlgkk69OAdlc9b5ymjETjWUx7KTc34mE_lJnmdztTQ-CmJIY&t=1&usg=__SGmCA_KD40lsJNzJCrO-avkgpBQ=A Bíblia, esta coleção de 73 livros escritos por autores diversos e em épocas diferentes, antes de ser escrita, foi vivida e contada, como já vimos anteriormente. Até o ano 1300 a.C., nada existia por escrito a respeito da Revelação. Havia somente tradições orais. Também não existia ainda o Povo de Israel, mas apenas grupos de famílias unidas em clãs e tribos. A um período de mil anos de tradição oral, seguiu-se um período de mil anos de formação da Bíblia escrita.
http://t1.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcTkix-BmJCRp-5qAVJMKKwCh64cVG4t_AcmtIoi1QPjLJWzHdU&t=1&usg=__IlIB5yC-24Wl1jA3mb_lxAX6sO4=A Bíblia contém dois mil anos de caminhada de Deus com o seu povo. Deus mostrou-se presente na história de seu povo e o povo foi registrando os acontecimentos nos livros que compõem a Bíblia. O conjunto dos 73 livros que estão dentro da Bíblia foram escritos num período de 1400 anos, isto é, de 1300 a.C. ao ano 100 d.C. Portanto, do primeiro ao último livro, passaram-se cerca de 14 séculos. Mesmo assim, esses 73 “livros” apresentam uma extraordinária unidade e harmonia no seu conteúdo, o que só é explicável admitindo-se a Deus como seu principal autor, como o inspirador de todos eles.

14 – Em que língua foi escrita a Bíblia?
http://t1.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcSR91lleAaF0fofkDyK4qkgyhYxn4OVfCLu1I46X1LxRKpx9x0&t=1&usg=__luqlZhHEcmVCJI5LvlxMTcU9KmA=O AT foi escrito, em sua maior parte, na língua hebraica, na Palestina. Alguns dos últimos livros foram escritos, total ou parcialmente, em grego.
Durante o século II a.C., quando o povo judeu se achava espalhado por muitos países, os “Setenta” fizeram a tradução da Bíblia completa para o grego, em Alexandria, no Egito (a Septuaginta).
Pelo fim do século V d.C., quando o povo do Império Romano não entendia mais o grego, o Papa Dâmaso encarregou o monge Jerônimo (340-420) para fazer a tradução da Septuaginta para o latim vulgar (popular), então falado. Em 406 d.C., São Jerônimo entregou ao Papa a tradução latina da Bíblia, a assim chamada Vulgata. A partir dessa tradução oficial deveriam ser feitas todas as demais traduções da Bíblia.
http://t0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQ9P5lpOFPD4ZEmQUnER_2bZwCDxKinjoiDdeC1qLEiIsCePXc&t=1&usg=__L63v1wk3-rONvGIToMyNf5hFgGY=A Bíblia é, hoje, o livro mais editado em todo o mundo. Já foi traduzido para,  em torno de, 1700 línguas. É o livro mais divulgado e conhecido no mundo. Mas, mesmo assim, continua sendo um livro bastante desconhecido. Muita gente o tem em casa, mas não o abre para ler. Atualmente, porém, cada vez mais, desperta o interesse do povo cristão por conhecê-lo. Especialmente em nossas comunidades eclesiais de base.
           
http://t1.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQI9gSojXHUxh6eiIQfpXslp3GWA-ohhqyd5FeQnNiyZERruZM&t=1&usg=__jyoFYaxr7JFjVYYjln-lpN7ddCE=A Bíblia era, até o século XV, o único manual para o estudo da religião e a catequese. Como o povo não sabia ler, a catequese vinha esculpida nos portais das catedrais. Pelo século XII, quando o povo não entendia mais o latim, surgiram diversas traduções de livros da Bíblia para o vernáculo. As autoridades eclesiásticas proibiram semelhantes traduções, especialmente na Espanha e na Inglaterra. Era vetado possuir a Bíblia em vernáculo, sem autorização especial.
 Como reação contra a Reforma protestante, por 1570, proibiu-se a tradução e o manuseio da Bíblia, em vernáculo, para os leigos em geral. Esta proibição durou dois séculos, até o ano 1770.

Os papas, a partir do final do século XIX, passaram a estimular o uso e o estudo da Bíblia, especialmente do NT. No início do século XX foi fundado, em Roma, o Instituto Bíblico, todo ele voltado a essa tarefa, formando centenas de biblistas e exegetas. Em 1943 o Papa Pio XII publicou a encíclica “Divino afflante Spiritu”, que abria as portas para o estudo moderno e científico da Bíblia. O Concílio Vaticano II lançou o documento “Dei Verbum” sobre a Revelação e a Bíblia. Estes dois documentos provocaram uma renovação geral do estudo da Bíblia que é, atualmente, o centro do ensino da teologia, da pregação, da catequese e da liturgia. Por isso, hoje, não é cristão quem não adquire conhecimentos atualizados da Bíblia, e quem não a lê e sabe usá-la adequadamente.

15 - Gêneros literários
http://t2.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcR9Yt2rgghhhTavntrUoR3osU-qjkNsuxk5os6lVoqu6GbCfxw&t=1&usg=__Jgzld6sBhXW0NEzNHpnw9obBRzY=A Bíblia, além de ter sido escrita por autores diversos, em épocas diversas, foi escrita também em gêneros literários diversos. Os gêneros literários são as diversas formas de colocar, por escrito, uma determinada mensagem. Pessoas diferentes, de épocas diferentes e em situações diferentes, pensam e escrevem de maneiras diferentes. Os gêneros literários são produto das diversas culturas. Isto significa que eles variam de época para época e de povo para povo. A Bíblia foi escrita por orientais, que têm expressões, formas e maneiras de se comunicar diversas das nossas. Seu gênero literário é alegórico, simbólico.
Se vamos comparar os diversos livros da bíblia entre si, notamos que existem muitas diferenças, não só no conteúdo que apresentam como, também, na forma e no jeito como o apresentam. Mesmo dentro de um livro, de capítulo para capítulo, existem diferenças. Por que acontece isto? Em primeiro lugar, porque a Bíblia não foi escrita por um só autor humano, mas por muitos. Sabemos que pessoas diferentes pensam e escrevem de maneiras diferentes. Em segundo lugar, porque os textos foram escritos em épocas diferentes, para pessoas (destinatários) diferentes, em situações diferentes, por autores diferentes.
O que determina a escolha de um gênero literário? Os autores bíblicos utilizaram diferentes gêneros literários para atingir melhor os fins que se propuseram. Assim, em uma situação de violação da Aliança feita com Deus, numa situação de opressão, cabe uma denúncia profética, e o autor bíblico usa o gênero literário da profecia. Numa situação de desesperança, talvez seja mais interessante olhar para trás, para a salvação que Deus realizou no passado, e que é garantia de salvação no presente, usa-se o gênero literário da narrativa histórica. Se a comunidade cristã está precisando de incentivo, envia-se uma carta (era o que fazia S. Paulo).
Um determinado gênero literário era usado, também, para que os ouvintes ou leitores entendessem e assimilassem melhor a mensagem. Um profeta, muitas vezes, colocava a sua mensagem na forma de poesia porque, além de dar à profecia a força das imagens poéticas, os versos eram mais facilmente guardados na memória do povo, e mais facilmente transmitidos.
O autor bíblico usará aquele gênero literário mais adaptado às suas características e à missão a ele confiada por Deus. Deus e os autores bíblicos humanos têm uma determinada intenção, uma determinada mensagem a transmitir e, para tanto, usam este ou aquele gênero literário.
Assim, os profetas escreverão ou pronunciarão profecias, e os livros sapienciais serão escritos pelos sábios, nos gêneros literários que lhes são próprios.
A palavra humana na Bíblia, muito mais que um impessoal relato de verdades históricas, científicas ou morais, reveste-se de calor e de arte. E, como arte, os seus autores utilizam vários gêneros literários, diversas formas de escrever: as formas próprias da literatura. É a literatura inspirada de um povo, nas formas singelas da poesia, da prosa e da dramatização.
Por isso, é importante levar em conta o gênero literário quando fazemos a nossa leitura da Bíblia. Caso contrário, podemos entender erradamente a mensagem e a intenção de quem quer comunicar-se conosco, o próprio Deus. Imaginemos a decepção de um namorado ao descobrir que a carta de amor, enviada á sua namorada, foi por ela entendida como um tratado filosófico sobre o amor. Pode parecer incrível, mas é isto que fazemos, muitas vezes, ao lermos a Bíblia, que é uma grande carta de amor de Deus à humanidade.

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16 - A Bíblia é um livro diferente
A Bíblia não é um livro do passado. Não é uma relíquia. É um livro sempre atual. É palavra viva para os dias de hoje. Nós podemos descobrir-nos na Bíblia. Lendo a Bíblia, descobrimos que ela tem muito a ver com a nossa vida. Ela revela a nossa origem, nosso destino, nossa identidade, nosso caminho, nosso valor. Nela descobrimos o significado dos acontecimentos e o sentido da vida humana, a presença constante e amorosa de Deus na história da humanidade.
A Bíblia aconselha, exorta, repreende, questiona, julga, ilumina, educa, alimenta, ensina, corrige, critica abusos, denuncia erros e desvios, aponta rumos, indica caminhos.

17-Como ler a Bíblia hoje? 
Hoje devemos ler a Bíblia de tal maneira que ela seja capaz de oferecer uma visão de fé sobre a nossa realidade, e descobrir nela o apelo de Deus para a nossa realidade.
http://t1.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcR-3C9woCebEVm67IyxSZxxvxPBM93MFI4DXpSz9buhKdPPUHQ&t=1&usg=__86CF-BlYcdE179XkMyTiQgEu34M=A Bíblia não pode ser lida de forma ingênua, literalmente, ao pé da letra. Ela foi escrita para ser entendida espiritualmente. Nem se pode fazer uma leitura fundamentalista da Bíblia: buscar nela a confirmação das próprias idéias, a justificativa de seu modo de ver e viver. Esta seria uma leitura meramente subjetiva e manipuladora da Bíblia, usando-a em favor de nossos argumentos, fazendo Deus falar as nossas idéias.
Precisamos descobrir uma maneira de interpretar a Bíblia corretamente. A interpretação da Bíblia não depende só da inteligência e do estudo, mas também do coração e da ação do Espírito santo. Ela deve ser lida e interpretada na fé de que Deus nos fala por meio dela. Por isso, a leitura da Bíblia necessita de momentos de silêncio e de oração.
Para escutarmos a Palavra de Deus, através da leitura da Bíblia, necessitamos de uma atitude exterior de silêncio e uma atitude interior de fé. A fé é a chave para abrir a Bíblia e encontrar nela a Palavra de Deus. Quem tem fé enxerga na Bíblia mais do que as histórias que ela conta. Enxerga nela a Palavra de Deus. Ali é Deus quem nos fala através de palavras humanas, as únicas, aliás, que somos capazes de entender. A leitura da Bíblia exige óculos especiais para ser entendida: os “óculos da fé”.
É preciso, também, uma atitude de abertura: esta é um estado de espírito, uma atitude interior. Não podemos dirigir-nos à Bíblia com preconceitos, com idéias já formadas, definitivas, sem disposição de ouvir. Como poderá Deus plantar em nós a semente de sua Palavra se estamos fechados e apegados ás nossas próprias idéias.
É necessária, ainda, uma atitude de aceitação: esta já está, aliás, inerente à própria fé. Deus, porém, respeita a nossa liberdade. Ele nunca força ninguém a nada. Ele apenas propõe. De nossa parte é importante aceitar as suas propostas. Esta aceitação implica, muitas vezes, em abandonar as próprias idéias e projetos para acolher as idéias e abraçar os projetos de Deus.
Somente através dessas atitudes chegaremos ao verdadeiro conteúdo da Bíblia: DEUS.
Padre Ataliba

VIVENDO O MÊS DA BÍBLIA

INTRODUÇÃO AO MUNDO DA BÍBLIA
(uma colaboração do Padre Ataliba Scheider)

 (Na primeira parte aprendemos: COMO LER A BÍBLIA)
  
2ª PARTE
1 – Deus se revela e age na história

http://t1.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcS8qNK0OXZCG3O_KLpCbLh82vKou_8MWaO6wT76C4qbc8aamZw&t=1&usg=__8qkXtVv5DIWyxSidzx1uX-H716k=Toda pessoa humana busca sua auto-realização, sua felicidade. Os desejos e as aspirações mais profundas do coração humano foram colocados ali por Deus. Antes mesmo de a humanidade querer a sua realização e começar a agir para buscá-la, Deus já tomava a iniciativa, revelando-se, fazendo-se presente pela sua palavra e pela sua ação.
            Esta atuação de Deus dá-se na História, que se torna História da Salvação. Ela começa nos primórdios da humanidade, passa pela história do povo de Israel, o Povo de Deus, no Antigo Testamento, e atinge o seu ponto alto em Jesus Cristo, continuando nos dias de hoje, até o fim dos tempos. É o amor de Deus revelando-se na história humana. Esta História de Salvação consta do diálogo, por palavras e ações, entre Deus e a humanidade. Toda a vida humana é essencialmente diálogo de Deus com a humanidade. A Bíblia surge desse e nesse diálogo: o diálogo entre Deus e os homens.
http://t1.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcRSMaC9SKzzi9C83HdKoaE4KcRdpogDav7ZfJz6QZALNEgZC_s&t=1&usg=__Z3LZyHP7_HYHmheAj4NiZv8omJE=            A Palavra de Deus, contida na Bíblia, é chamada também de Revelação”, porque nela Deus “tira o véu” e mostra-se a nós com a finalidade de estabelecer vínculos de amizade e união conosco. Deus, através da sua Palavra, quis fazer-nos participantes de sua própria vida. Deus nos fala na Bíblia para revelar-se a si mesmo, seu projeto de amor e salvação. A Bíblia apresenta a revelação de Deus na história humana. Ela nos revela o que Deus é para nós e o que somos nós para Ele.

2.Duas formas de Deus revelar-se, de falar conosco
http://t2.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcRCDQjXMKlj1Cvar0KLORwBVra8TGu3p43ndnjwTRJiJI5qxAA&t=1&usg=__PUWdOA1xPupCJTxkgZUPwLNZsPU=Santo Agostinho diz que Deus escreveu dois livros: o primeiro é o LIVRO DA VIDA. São os fatos, os acontecimentos, as situações que vivemos, que enfrentamos; é a realidade que nos envolve, é a vida que vivemos. É a natureza, o mundo criado pela Palavra de Deus. Deus quer falar-nos através de nossa história pessoal e da história do nosso povo. Deus comunica-se conosco através do “livro da vida”. É por meio dele, em primeiro lugar, que Ele nos transmite sua mensagem de amor. É nesse livro, não escrito, que Ele quer que descubramos a sua palavra, a sua revelação.
            Mas nós, homens e mulheres, por causa dos nossos pecados, embaralhamos as letras desse “livro”, organizamos o mundo de tal maneira, e criamos uma sociedade tão desvirtuada, que já não é mais possível perceber,, claramente, a Palavra de Deus que quer revelar-se dentro da vida que vivemos. Por isso, Deus escreveu um segundo livro: o LIVRO DA BÍBLIA.
http://t3.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQ1B7lSS7Zw_VnaI50qSAfY6Lcwi4FwrpqwsYqKSRRpRwbv-_o&t=1&usg=__Qik2BPCOkoQUfS6_miwhxqLU4W4=Este segundo livro não veio substituir o primeiro. A Bíblia não veio ocupar o lugar da Vida. Antes, pelo contrário, a Bíblia foi escrita para nos ajudar a entender melhor o sentido da vida que vivemos, a tirar os enganos, a consertar e a interpretar a realidade, a perceber mais claramente a presença da Palavra de Deus dentro da nossa história, a entender de novo o Livro da Vida.
            O mundo é como um grande livro em que todos podemos aprender a descobrir o rosto de Deus que nele se revela. O contato com a Bíblia nos dá uma visão nova, renovada deste mundo. Ela serve para iluminar e, assim, descobrirmos a Palavra de Deus presente nos fatos e na história de nossa vida. Por isso, quem lê e estuda a Bíblia, mas não olha a realidade do povo de ontem e de hoje, é infiel à Palavra de Deus. 

http://t2.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcSWRsgUDXaaPT5ktpQopPfJu83IuZZqcIViJfPZ1A0dRRZT7EY&t=1&usg=__tMzHILQgGLLs1gBh14bkuG0gvbo= Santo Agostinho resumiu tudo isso da seguinte maneira: “A Bíblia, o segundo livro de Deus, foi escrita para nos ajudar a decifrar o mundo, para nos devolver o olhar da fé e da contemplação e para transformar toda a realidade numa grande revelação de Deus”.
            Deus nos entregou, pois, dois livros: a Vida e a Bíblia. Uma ajuda a compreender melhor a outra. A Bíblia lê a Vida e a Vida lê a Bíblia. Deve-se interpretar a Bíblia, olhando a realidade, e interpretar a realidade a partir da Bíblia. A vida é a estrada na qual viajamos. A Bíblia é o mapa rodoviário que nos dá uma visão melhor da estrada e de suas ligações com outros caminhos. Quando olhamos a vida com os nossos próprios olhos, é como olhar a estrada sem o mapa rodoviário. Como nossa visão é curta, e nossos olhos são pequenos, neles cabe pouca coisa. Só vemos um detalhe de cada vez: esta curva, aquela árvore, aquela casa na encosta da montanha, etc. Impossível entender o desenho da estrada e o seu percurso completo.
http://t2.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcTpMmq5LfL_tmDjUzh5H8Kq19DoUq3_nBCLAXPtSH7cLvXaXYQ&t=1&usg=__UoNlSjnCd1fet-fP8N11OkSsdXQ=
Quando olhamos a vida pelas páginas da Bíblia, vemos a vida pelos olhos de Deus. É como ver a estrada no mapa rodoviário. Então entendemos o começo, o meio e o fim, as vias preferenciais e os atalhos, os locais para abastecer o carro e o motorista. Através da Bíblia, Deus nos empresta seus olhos para que possamos entender melhor a estrada da nossa  Dois fios são necessários para se acender uma lâmpada. Duas coisas são necessárias para que se acenda em nós a lâmpada da fé: Bíblia e Vida. A Palavra de Deus e a realidade da vida. O nosso maior defeito, hoje, não é a falta de reflexão sobre as coisas da fé, contidas na Palavra de Deus, mas sim a falta de conhecimento da realidade e a falta de reflexão sobre a realidade à luz da fé. 

Interpretar a Bíblia sem olhar a realidade da vida pessoal e social, a realidade de ontem e de hoje, é o mesmo que manter a luz debaixo da mesa, o sal fora da comida, a semente fora da terra. A semente é para a terra, e a terra é para a semente. A PALAVRA de DEUS isolada da REALIDADE, separada da VIDA, torna-se palavra vazia, palavra morta. Deixaria de ser DIÁLOGO. Nada teria a dizer-nos para a nossa vida real. Por outra parte, a REALIDADE sem a PALAVRA reveladora de Deus, fica sem sentido. Não se pode separar a Bíblia da Vida e a Vida da Bíblia.

http://t3.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcSU2x5Jk4SHLZH5SWwDliIVu3URxA1neUZap8bhBb0B8Ntppl8&t=1&usg=__Duml091Fkiy3wBniRTbJb09MF_8=Por que a realidade da vida é tão importante para a gente poder entender a Bíblia? É porque a Bíblia não é o primeiro livro que Deus escreveu para nós. A Palavra de Deus não se encontra somente na Bíblia. Deus nos fala também através dos fatos, dos acontecimentos históricos.

3 – Conceito de Bíblia
http://t2.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcRz99X5XHeE11mwma2N55Bm-XiT4BVUE1PcxHU8BAEhCxjujfk&t=1&usg=__NU12S3mTHBwNpSqB3EKE6Ua5VA8=A Bíblia não é um único livro, mas uma coleção de livros. É uma pequena biblioteca. Aliás, a própria palavra “bíblia”, de origem grega, é o plural de “biblion” que quer dizer “livro”. Portanto, bíblia, originariamente, significa “livros”. Chama-se de Bíblia, pois, a coleção de 73 livros inspirados por Deus, escritos em épocas diferentes, por autores diversos, e em 
A palavra Bíblia provém da cidade de Bíblos, na Fenícia, costa oriental do Mediterrâneo, uma das mais antigas cidades do mundo, do século III a.C. Cidade portuária. Servia de intermediária no vasto comércio do Mediterrâneo.
Os gregos compravam, em Biblos, papiros egípcios, dando o nome de “biblion” ao produto que dali importavam: “as coisas vindas de Biblos” (= bíblia).
Com o tempo, o termo foi aplicado a qualquer livro    escrito em papiro e, no começo do Cristianismo, o nome biblion foi reservado para o livro mais importante para os cristãos.

http://t0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQbqz7OjnEGZrvsUJSaj_Al1X63ulMECL5UvZFsB6WmJaA5K6w&t=1&usg=__5SYtKWpog3b9cjvI0ymesC4bCEU=4 - Divisão da Bíblia
A Bíblia divide-se em duas partes: o Antigo Testamento (AT) e o Novo Testamento (NT). O AT é uma coleção de 46 livros, escritos antes do nascimento de Jesus. O NT é um conjunto de 27 livros, escritos depois de Jesus. Podemos considerar a Bíblia como uma verdadeira biblioteca, com duas estantes de livros, ordenados em várias prateleiras, segundo os dois Testamentos.
            A palavra “testamento” significa um pacto, uma aliança firmada com testemunhas. Trata-se, portanto, da Aliança entre Deus e o Povo. Da antiga e nova Aliança. É a história do amor de Deus para com a humanidade.

5 – Conteúdo da Bíblia
http://t0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcTC1pBPRUDqFuB3FbTtTpZ80hx2P-4fPYGmobJiOsqqCoB788o&t=1&usg=__EiNNHH3cZAEZMsfeADhCfYVW768=Nas páginas da Bíblia se registram as mais importantes intervenções de Deus na história humana: a criação do mundo, a eleição do Povo de Israel, a encarnação de Jesus Cristo, a formação da comunidade cristã.
 No AT encontramos: a criação do mundo, os grandes homens de fé, escolhidos por Deus: Noé, Abraão, Isaac, Jacó e José, Moisés e Josué, pessoas que sempre foram fiéis a Deus, atendendo aos chamados que Ele lhes fazia. Nele encontramos, ainda, os Profetas que anunciavam a chegada do Messias-Jesus, e que convocavam o Povo para a conversão e a fidelidade a Javé. Os maiores profetas foram: Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel. Podemos resumir o AT, dizendo que Deus escolhe um povo e o prepara para receber o Salvador. Todo o AT é uma preparação para a vinda de Jesus Cristo.
            Há pessoas que pensam que os acontecimentos mais importantes do AT são: Adão e Eva, Caim e Abel, o Dilúvio, a Torre de Babel, etc. Não podemos perder-nos na periferia. É preciso ir ao cerne, ao principal. E o principal é que Deus prometeu salvar a humanidade do pecado e de suas conseqüências e, para isso, escolheu um Povo entre todos os povos da Terra, fez uma Aliança de amizade com esse Povo e o foi preparando para a chegada do Salvador.
            O AT é a história do Povo de Israel. Um povo nem melhor nem pior que os demais povos, porém eleito por Deus para que nele nascesse Jesus Cristo. É a história de um povo que muitas vezes abandonou o Senhor, traindo a Aliança feita com Ele, e a quem o Senhor sempre perdoava e continuava guiando.
            Todo o AT conta a história desse povo judeu, escolhido por Deus para trazer a Salvação ao mundo. Os diversos livros do AT tratam de temas distintos, como: a formação do Povo de Israel, suas leis, suas tradições, a história de sua independência e, acima de tudo, a Aliança, ou pacto de amizade que Deus fez como esse povo. No plano de Deus tudo isso tinha uma finalidade: preparar a Encarnação, a vinda ao mundo, do Filho de Deus, JESUS CRISTO.
http://t3.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcRA9Q1VBeSrxE_h0SR0nwugOZISPmAsiLVrzZTpp6nZdvDspBY&t=1&usg=__r_krNdXkNxW0QDR5dlAY52j68Vw=A Bíblia nos apresenta a Revelação, a mensagem de Deus encarnada na História humana. É a Palavra de Deus que entra na história de Israel. No decorrer de sua história, o povo judeu soube escutar a Palavra de Deus que se tornou a razão de ser de sua vida e do seu caminhar através dos tempos. Esta é, também, uma Palavra que iluminará a História de toda a vida humana.
O NT, através dos quatro Evangelhos que são o coração de toda a Bíblia, mostra a vida de Jesus, desde a sua Encarnação, seu nascimento, até a sua Ascensão ao Céu, o seu retorno para o Pai. Mostra como viviam os primeiros cristãos, em Atos dos Apóstolos. Relata o surgimento e a expansão da Igreja, particularmente nas Cartas do apóstolo São Paulo. O último livro é o Apocalipse. JESUS e o REINO de Deus são a mensagem mais importante do NT.
http://t0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQydwiShXrmqy_E6RxnkJJ8HRRyMdp8TI9Gmzd-i0xUAm0Q3Ok&t=1&usg=__My8KYP_VzKbYVfhL3BJL0unr5Gg=            A Bíblia tem uma espinha dorsal que se apóia em dois nomes: ISRAEL (AT) e  JESUS CRISTO (NT). Um preparando o caminho para o outro. São as duas chaves principais para a leitura de toda a Bíblia. ISRAEL significa um homem e uma nação. A história da nação começou com um homem: JACÓ. Dois acontecimentos fundantes: o ÊXODO e a RESSURREIÇÃO.
Podemos dizer que o AT contém o NT e que o NT é a realização do AT. Ou,  como diz Santo Agostinho: “O Novo Testamento está latente no Antigo, e o Antigo Testamento está patente no Novo”. O AT é o botão; o NT é a flor que nasceu do botão. Ou seja, Jesus Cristo e o Evangelho estão presentes, de maneira escondida ou latente, em forma de semente, dentro da caminhada e das lutas do nosso povo pela sua libertação.

A Bíblia é como um álbum de fotografias. Nela tem de tudo. Na Bíblia encontramos os mais variados assuntos: doutrina, ensinamentos, instruções, histórias, provérbios, profecias, cânticos, orações, lamentações, cartas, sermões, meditações, biografias, poesias, parábolas, conselhos, genealogias, teologia, filosofia, romance, alegorias, contratos, alianças, culto...; coisas alegres e tristes; fatos concretos e narrações simbólicas; coisas do passado, do presente e do futuro. Na Bíblia há passagens que querem anunciar, comunicar esperança, coragem e amor; e há trechos que querem denunciar erros, desvios, pecados, opressões, injustiças; criticar abusos e apontar rumos.

6 – DEUS, principal conteúdo da Bíblia
http://t0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQ7w9Fx_Z-hV6CgtatX71lJNGG7oB8tudBPeaSLKGQFY9OFW90&t=1&usg=__TlE_8TC53Rm-B1zHBFiOlkJvcz8=A Igreja no seu documento oficial sobre a Bíblia, chamado Dei Verbum, do Concílio Vaticano II, diz que as Sagradas Escrituras contêm a Palavra de Deus. Isto significa que é preciso atender ao seu conteúdo.
De fato, um ateu pode ler ou estudar a Bíblia sob muitos aspectos, mas ele jamais dirá que ela contém a Palavra de Deus. Um estudioso de coisas antigas pode manusear a Bíblia, compará-la com outros escritos antigos, e não estar interessado na Palavra de Deus. Esta certamente lhe passará despercebida.
Nós mesmos, quando apenas lemos as belas e tocantes histórias bíblicas, não procurando nelas a Palavra de Deus, muito provavelmente não a ouviremos. Certamente não encontraremos, também, a Palavra de Deus quando lemos a Bíblia para usá-la em favor de nossos argumentos. Não estaremos ouvindo a Palavra de Deus quando fazemos Deus falar as nossas idéias. Estaremos fazendo, então, uma leitura fundamentalista, subjetiva, manipuladora da Bíblia.  
Quando a Igreja diz que as Sagradas Escrituras contêm a Palavra de Deus, precisamos fazer um esforço consciente para concentrar-nos no conteúdo da Bíblia. Só assim teremos a alegria de perceber e experienciar a Palavra de Deus. Esta nos apresenta como grande conteúdo o próprio DEUS.    
           
7 – A Bíblia, antes de ser escrita, foi vivida e contada oralmente
http://t1.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcTi_8im2mK5WYO3-Bp-NAX1TYA4-ARQwUjb1qzryarJdXEJ8jA&t=1&usg=__f_NBuWlTXiiq06gs45s14uP0w44= A Bíblia não caiu pronta do céu. Ela surgiu da terra, de dentro da vida e da história do Povo de Deus, do povo de Israel. Antes de existir o conjunto de livros escritos, ocorreram uma série de experiências de vida, experiências religiosas, sucessivos encontros entre Deus e os homens, ao longo da história. Deus vai-se revelando progressivamente, não a uma pessoa isoladamente, mas um grupo de pessoas, a todo um povo, o Povo de Deus.
Essas experiências recebem uma interpretação à luz da fé. E o Povo reconhece em determinados acontecimentos a intervenção do seu Deus, o Deus Salvador. O acontecimento fundante é o Êxodo, e sobre ele é feita uma reflexão teológica.
            Assim, por exemplo, no século XIII a.C., um grupo do povo de Israel está escravo no Egito. Surge um líder, Moisés, que conduz este grupo para fora do Egito, atravessando o deserto, numa longa peregrinação rumo à Terra Prometida. Aquele grupo de pessoas experimenta a força salvadora e libertadora de Deus, e passa esta experiência a todo o Povo de Deus. Aquele acontecimento do Êxodo, e a sua interpretação teológica, são guardados na memória do Povo, e transmitidos boca-a-boca, oralmente, de geração em geração. O Espírito Santo já atuava então, orientando a História, orientando a sua interpretação, e garantindo a fidelidade no relato.
            O tempo passa. Estamos no século XI a.C. É o período dos JUÍZES (1200-1020). A vida das 12 tribos de Israel, até o início da Monarquia. Tempo cheio de dificuldades. Conflito entre a fidelidade a Javé e o culto aos ídolos. Ruptura da Aliança, quebra da consciência histórica. Os Juízes eram os “governadores” das tribos, chefes carismáticos. Era cargo vitalício.
            O Povo de Deus, já estando na Terra Prometida, continuava conquistando esta terra, ainda não tinha a sua posse total. Nesta conquista faz novas experiências da presença e intervenção de Deus em seu favor.
            Olhando para o passado, o povo de Israel vai aprofundando a compreensão de tudo aquilo que já viveu. Faz o que nós hoje chamamos de releitura dos acontecimentos do Êxodo, da libertação da escravidão do Egito, à luz de suas novas experiências de fé. E o Espírito Santo se faz presente, não só orientando a história e garantindo a fidelidade no relato, mas, também, orientando esta releitura dos acontecimentos. Tudo isso é juntado ao patrimônio de fé do Povo de Deus, e repassado às novas gerações.

8 – A Bíblia, depois de contada oralmente, começa a ser escrita
http://t2.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcRF2e3ibHOY0jGbUmIobwspknj8F2GE1rtvtXGst5vKm4mFL-0&t=1&usg=__aYmPqGe6psURJj-R6qUIquUEOn8=Mais algum tempo decorre. Estamos no século X a.C., tempo da Monarquia, no reinado de Salomão. O povo de Israel, o Povo de Deus, vive novas condições de vida. Agora tem REIS, e enfrenta novos problemas, mas continua olhando para a sua história. Os acontecimentos do Êxodo, a saída do Egito para a Palestina, contados de geração em geração, relidos à luz da experiência do tempo dos Juizes, agora são relidos novamente, e, além disso, colocados por escrito. Começam a surgir os livros da Bíblia. Nesta nova etapa o Espírito Santo continua atuando, orientando a releitura dos fatos, e inspirando aquelas pessoas que colocam, por escrito, os acontecimentos do Êxodo. Este processo de escrita vale também para compreender outros acontecimentos vividos pelo povo de Israel e, portanto, as origens dos demais livros bíblicos do Antigo Testamento.
A Bíblia é, pois, um livro de confissões de homens e mulheres do passado, que tiveram uma experiência viva de Deus. A Bíblia é o testemunho de uma experiência. E da intensidade dessa experiência, brotaram as palavras que constituem o texto da Bíblia.
Ela é um livro de testemunhos. Suas palavras apontam para uma experiência vivida, e nos convidam para irmos além do texto, para onde o texto aponta, para o seu real significado.
Padre Ataliba Scheider