NINGUÉM PODE SERVIR A DEUS E AO DINHEIRO
TUDO NOS É DADO POR EMPRÉSTIMO: A VIDA, OS DONS, OS BENS, em fim, o que somos e temos. Tudo é caminho, é busca, é luta. Nossa resposta é SER GRATO A DEUS
“Ninguém pode servir a dois senhores: ou odiará a um e amará a outro, ou se apegará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (São Mateus 6,24). A Campanha da Fraternidade já nos colocou diante deste alerta de Cristo. O dinheiro só serve e agrada a Deus quando for utilizado para promover a vida e criar uma convivência fraterna e justa entre os homens. Afora isso ele se desvia dos desígnios Divinos por causa da injustiça. Um dia Deus nos pedirá conta desses dons.
QUE NOSSA ESCOLHA SEJA PRIORISAR O SERVIR A DEUS NA VIDA DE FÉ E NA ECONOMIA DE NOSSO DIA-A-DIA.
Os bens materiais não podem embotar essa riqueza no coração dos filhos de Deus.
Pe. Vicente de Paulo: “Jamais devemos perder de vista o divino modelo! É preciso ver Jesus Cristo no pobre, e ver no pobre a imagem de Cristo.”
Não se pode andar para a esquerda e para a direita nem se pode ir para frente e para trás ao mesmo tempo. Costuma-se brincar, dizendo que ninguém consegue assobiar e chupar cana ao mesmo tempo. Ou faz uma coisa ou faz outra. Assim também: “Não podeis servir a Deus e ao dinheiro”. É comum esta alegação: “Afinal de contas, não estou servindo ao dinheiro, procuro pensar na vida, nos filhos, no futuro. Preciso garantir o que já tenho”. Tudo é válido quando o dinheiro é meio e não fim. Não se pode viver em função da riqueza. Ou se vive em função de Deus e do Reino de Deus (viver a simplicidade) ou vive em função dos bens materiais.
Não é uma questão de ter muito ou pouco - é no coração que tudo começa : sem conversão, as riquezas nas mãos do homem se tornam injustiças, tanto no possuir quanto no dar. Ou você é simples, humilde, “esvaziado”, está contente com aquilo que tem e busca ou, então, você é apegado, egoísta, ganancioso, cheio de cobiça, quer ter mais, adquirir, possuir mais. Não é possível fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Não se pode confundir o simples TER com o SER.
O evangelho (Lc-16,1-13) nos alerta na boa administração dos bens que cada um recebe de Deus. Quais esses bens: a) os bens da terra que é para todos. Não é dividir os restos. b) os bens da saúde: como cada um administra sua saúde (30% é o DNA dos pais; 70% é como eu vivo e gerencio minha saúde. c) da educação, do ensino: ou você gosta disso ou daquilo – administrar a escolha sadia e eficiente. Como em computador: implantar programas bons.
PARA MEDITAR: como estou administrando minha saúde pessoal, educação e “bem estar”: como defino o que é útil e necessário para o viver saudável; meu tipo de “papo” com as pessoas no dia-a-dia; como administro meu envelhecer com utilidade. Dom Helder Câmara: “Aprender como o bom vinho – quanto mais velho, melhor”.
Como COROLÁRIO para cada um de nós, na afirmação de são Basílio: “Ao faminto pertence o pão que conservas; ao nu, o manto que mantem guardado; ao descalço, os sapatos que estragam em sua casa; ao necessitado, o dinheiro que esconde”.
Wlimar C de Campos
VIVENDO O MÊS DA BÍBLIA
INTRODUÇÃO AO MUNDO DA BÍBLIA (1a.Parte)
(uma colaboração do Padre Ataliba Scheider)
A) COMO LER A BÍBLIA
Para que um texto bíblico possa ser luz em nossa vida, ele precisa ser compreendido corretamente. Para poder compreendê-lo, precisamos ser fiéis a três coisas:
1. ao pré-texto, isto é, a toda aquela realidade de vida que motivou e condicionou o texto bíblico;
2. ao texto: como o temos na Bíblia;
3. ao contexto: isto é a realidade concreta em que nós vivemos, como homens de fé, participantes de nosso tempo.
a) Pré-texto bíblico
Para interpretar e compreender corretamente um texto da Bíblia é preciso conhecer o pré-texto, isto é, tudo aquilo que preexistiu ao texto e foi motivo para elaboração do texto bíblico. Não há pensamento que não esteja situado. Todo o escrito traz as marcas do seu tempo, da perspectiva em que foi proferido. Descobrir o pré-texto é importante para descobrir o sentido do texto e da Palavra de Deus, pois ela é palavra para uma situação concreta. Para isso são importantes perguntas como estas:
· A quem foi escrito este livro (ou carta)?
· Quando foi escrito?
· Qual era o quadro de fundo, isto é, a situação que era enfrentada?
· Qual é a resposta que o texto dá para essa situação vivida?
b)Texto bíblico
O texto bíblico deve ser lido com muita atenção para descobrirmos o que o autor está dizendo; caso contrário, o faremos dizer coisas que ele realmente não disse nem teve a intenção de dizer
É bom observar que cada escritor da Bíblia teve uma razão particular para escrever o seu livro. Ao desenrolar a sua argumentação, há conexão lógica entre um parágrafo e outro. Precisamos encontrar o propósito global do livro a fim de determinar o sentido das palavras ou passagens particulares no livro. Estas e outras perguntas nos ajudarão nesta tarefa:
· De que fala o texto?
· O que ele está afirmando?
· Quais os argumentos que o autor utiliza para expor idéias?
· Como esta passagem que estamos meditando se relaciona com o texto anterior e posterior?
· Qual a mensagem que o autor quer nos comunicar?
c) Contexto atual
O texto Bíblico deve ser luz para a nossa vida presente, para o nosso hoje, para a nossa realidade. Com dizia Paulo VI: “O intérprete não terá terminado a sua tarefa a não ser depois de ter mostrado o alcance da Palavra de Deus para o atual momento salvífico, tanto da Igreja como do mundo”.
§ Qual é a realidade que estamos vivendo?
§ Quais são seus grandes problemas, seus desafios?
§ Qual é a Palavra de Deus para esta nossa situação concreta?
Em suma, este processo de compreensão de leitura da Bíblia, pode ser assim entendido: estimulado pelos problemas da realidade (pré-texto), o povo busca uma luz na Bíblia (texto), que é lida dentro de uma comunidade de fé (contexto)
Por isso vamos ver como o povo de Deus usava a Bíblia. A Bíblia contém dois mil anos de caminhada de Deus com o seu povo. Deus mostrou-se presente na história de seu povo e o povo foi registrando os acontecimentos nos livros que compõem a Bíblia. Os 73 livros que estão dentro da Bíblia foram escritos num período de 1400 anos, isto é, 1300 AC, até o ano 100 DC.
B) REVELAÇÃO DIVINA
1 – Deus se revela e age na história
Toda pessoa humana busca sua auto-realização, sua felicidade. Os desejos e as aspirações mais profundas do coração humano foram colocados ali por Deus. Antes mesmo de a humanidade querer a sua realização e começar a agir para buscá-la, Deus já tomava a iniciativa, revelando-se, fazendo-se presente pela sua palavra e pela sua ação.
Esta atuação de Deus dá-se na História, que se torna História da Salvação. Ela começa nos primórdios da humanidade, passa pela história do povo de Israel, o Povo de Deus, no Antigo Testamento, e atinge o seu ponto alto em Jesus Cristo, continuando nos dias de hoje, até o fim dos tempos. É o amor de Deus revelando-se na história humana. Esta História de Salvação consta do diálogo, por palavras e ações, entre Deus e a humanidade. Toda a vida humana é essencialmente diálogo de Deus com a humanidade. A Bíblia surge desse e nesse diálogo: o diálogo entre Deus e os homens.
A Palavra de Deus, contida na Bíblia, é chamada também de “Revelação”, porque nela Deus “tira o véu” e mostra-se a nós com a finalidade de estabelecer vínculos de amizade e união conosco. Deus, através da sua Palavra, quis fazer-nos participantes de sua própria vida. Deus nos fala na Bíblia para revelar-se a si mesmo, seu projeto de amor e salvação. A Bíblia apresenta a revelação de Deus na história humana. Ela nos revela o que Deus é para nós e o que somos nós para Ele.
2 – Duas formas de Deus revelar-se, de falar conosco
Santo Agostinho diz que Deus escreveu dois livros: o primeiro é o LIVRO DA VIDA. São os fatos, os acontecimentos, as situações que vivemos, que enfrentamos; é a realidade que nos envolve, é a vida que vivemos. É a natureza, o mundo criado pela Palavra de Deus. Deus quer falar-nos através de nossa história pessoal e da história do nosso povo. Deus comunica-se conosco através do “livro da vida”. É por meio dele, em primeiro lugar, que Ele nos transmite sua mensagem de amor. É nesse livro, não escrito, que Ele quer que descubramos a sua palavra, a sua revelação.
Mas nós, homens e mulheres, por causa dos nossos pecados, embaralhamos as letras desse “livro”, organizamos o mundo de tal maneira, e criamos uma sociedade tão desvirtuada, que já não é mais possível perceber,, claramente, a Palavra de Deus que quer revelar-se dentro da vida que vivemos. Por isso, Deus escreveu um segundo livro: o LIVRO DA BÍBLIA.
Este segundo livro não veio substituir o primeiro. A Bíblia não veio ocupar o lugar da Vida. Antes, pelo contrário, a Bíblia foi escrita para nos ajudar a entender melhor o sentido da vida que vivemos, a tirar os enganos, a consertar e a interpretar a realidade, a perceber mais claramente a presença da Palavra de Deus dentro da nossa história, a entender de novo o Livro da Vida.
O mundo é como um grande livro em que todos podemos aprender a descobrir o rosto de Deus que nele se revela. O contato com a Bíblia nos dá uma visão nova, renovada deste mundo. Ela serve para iluminar e, assim, descobrirmos a Palavra de Deus presente nos fatos e na história de nossa vida. Por isso, quem lê e estuda a Bíblia, mas não olha a realidade do povo de ontem e de hoje, é infiel à Palavra de Deus.
Santo Agostinho resumiu tudo isso da seguinte maneira: “A Bíblia, o segundo livro de Deus, foi escrita para nos ajudar a decifrar o mundo, para nos devolver o olhar da fé e da contemplação e para transformar toda a realidade numa grande revelação de Deus”.
Deus nos entregou, pois, dois livros: a Vida e a Bíblia. Uma ajuda a compreender melhor a outra. A Bíblia lê a Vida e a Vida lê a Bíblia. Deve-se interpretar a Bíblia, olhando a realidade, e interpretar a realidade a partir da Bíblia. A vida é a estrada na qual viajamos. A Bíblia é o mapa rodoviário que nos dá uma visão melhor da estrada e de suas ligações com outros caminhos. Quando olhamos a vida com os nossos próprios olhos, é como olhar a estrada sem o mapa rodoviário. Como nossa visão é curta, e nossos olhos são pequenos, neles cabe pouca coisa. Só vemos um detalhe de cada vez: esta curva, aquela árvore, aquela casa na encosta da montanha, etc. Impossível entender o desenho da estrada e o seu percurso completo.
Quando olhamos a vida pelas páginas da Bíblia, vemos a vida pelos olhos de Deus. É como ver a estrada no mapa rodoviário. Então entendemos o começo, o meio e o fim, as vias preferenciais e os atalhos, os locais para abastecer o carro e o motorista. Através da Bíblia, Deus nos empresta seus olhos para que possamos entender melhor a estrada da nossa vida.
Dois fios são necessários para se acender uma lâmpada. Duas coisas são necessárias para que se acenda em nós a lâmpada da fé: Bíblia e Vida. A Palavra de Deus e a realidade da vida. O nosso maior defeito, hoje, não é a falta de reflexão sobre as coisas da fé, contidas na Palavra de Deus, mas sim a falta de conhecimento da realidade e a falta de reflexão sobre a realidade à luz da fé.
Interpretar a Bíblia sem olhar a realidade da vida pessoal e social, a realidade de ontem e de hoje, é o mesmo que manter a luz debaixo da mesa, o sal fora da comida, a semente fora da terra. A semente é para a terra, e a terra é para a semente. A PALAVRA de DEUS isolada da REALIDADE, separada da VIDA, torna-se palavra vazia, palavra morta. Deixaria de ser DIÁLOGO. Nada teria a dizer-nos para a nossa vida real. Por outra parte, a REALIDADE sem a PALAVRA reveladora de Deus, fica sem sentido.
Não se pode separar a Bíblia da Vida e a Vida da Bíblia.
Por que a realidade da vida é tão importante para a gente poder entender a Bíblia? É porque a Bíblia não é o primeiro livro que Deus escreveu para nós. A Palavra de Deus não se encontra somente na Bíblia. Deus nos fala também através dos fatos, dos acontecimentos históricos.
Padre Ataliba Scheider
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